Jornalista Júlio Cezar Garcia-Meninos em tratamento de desintoxicação mostram que basta uma chance para tudo mudar
Dia-a-dia
Hoje eles são viciados só em Corinthians e sonham ver seus ídolos na quarta-feira no Teixeirão
Júlio Cezar GarciaAgência BOM DIAHoje eles são viciados só em Corinthians. Malucos pelo Corinthians. É o único barato, o grande delírio depois de anos de maconha, solvente e crack.São 14 crianças e adolescentes, sobreviventes das drogas, que moram em uma república, cujo endereço é mantido em sigilo para evitar assédio de traficantes que não perdem a esperança de arrastá-los de volta. Os 14 são corintianos.A república é mantida pela ONG Só por Hoje, que recebe recursos da secretaria de Assistência Social de Rio Preto.L.T.C. tem 17 anos. Faz desintoxicação química desde os 13 anos.“Minha mãe foi presa por tráfico e eu fui para a rua com meus irmãos. Eu tinha seis anos quando experimentei maconha pela primeira vez.”Era a época em que crianças de rua viviam em uma toca escavada no alto do barranco que sustenta o viaduto Jordão Reis, no centro de Rio Preto. “Alguns deles não tiveram minha sorte. Morreram antes.”“A gente pedia dinheiro e, quando juntava um pouco, comprava droga. Dia e noite fumando maconha e cheirando Thinner naquele buraco abafado”, lembra. “Quando dava fome, a gente pedia comida na porta das casas. Alguns davam, outros xingavam. Uma mulher ameaçou abrir o portão para o cachorro dela me pegar.”L.T.C. contou sua história ao BOM DIA na quinta-feira, dia em que a república dos malucos corinthianos joga futebol e, não raro, vence times de adultos. Os meninos são bons de bola. Os sobreviventes das drogas parece que superaram os traumas. Como é o caso de outros quatro irmãos da república, de oito a 16 anos. A mãe se perdeu no crack, viciada até hoje. O pai foi assassinado. A saída foi a rua.Hoje os meninos estudam. Todos, na república, estudam ou trabalham. A educadora Mariah Cidah é voluntária na ONG e dá aulas de reforço escolar para eles. Virou uma mãezona dos 14 sobreviventes. “Aprendi que aqueles corações aparentemente embrutecidos pela vida são dóceis. Basta que a gente lhes dê afeto e lhes estenda a mão”, diz a educadora.
O sonho de ver o TimãoO time do coração dos 14 sobreviventes das drogas vem jogar em Rio Preto nesta quarta-feira. Na república deles, não se fala em outra coisa, a não ser a dúvida: “Será que o Ronaldo vem?”O sonho deles é ver esse jogo. Com ou sem Ronaldo no ataque do Corinthians. Mas o problema é o preço dos ingressos. Ninguém ali tem dinheiro para esse tipo de gasto.Por isso, a educadora Maryah Cydah, voluntária da ONG Só Por Hoje, está a procura de algum empresário que patrocine os ingressos para os meninos. “Não sei se vou conseguir, mas seria a realização de um grande sonho. Eles merecem”, diz.Dos moradores da república, quatro irmãos têm nomes de jogadores europeus dos anos 90. Eles não podem ser identificados, mas fazem jus aos nomes. Jogam futebol com habilidade. Sonham entrar para a escolinha de algum clube. O mais novo tem 8 anos. O mais velho, 16.L.T.C, além do futebol, tomou gosto pelo boxe. Uma mulher paga para ele as mensalidades da academia Primeiro Round. “Tem muita gente boa por aí. Tenho fé que alguém vai nos dar os ingressos para ver o Timão. Vai ser o máximo.”
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